quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Comunicar o divórcio aos filhos







Comunicar o divórcio aos filhos – Diretrizes a ter em conta

A decisão de se divorciar é sempre difícil, principalmente se existirem filhos. As mudanças, o começar tudo do zero é sempre muito angustiante. A incerteza do futuro e as mudanças que advêm afetam toda a dinâmica familiar.

Nessas alturas, é possível que todos os envolvidos sintam culpa, raiva, melancolia, fracasso, entre outros, sendo necessário criar condições para que todo o processo decorra da melhor forma para todos, especialmente para as crianças que sofrem muitas vezes mais que os pais, chegando a sentirem-se culpados pela separação dos pais.

As crianças não reagem ou sofrem todas da mesma forma, o que influencia fortemente o seu sentir é sem dúvida o comportamento dos pais durante todo o processo de divórcio. 

Após a decisão de se divorciarem, os pais devem combinar todas as medidas a tomar, antes de falarem com os filhos, tais como, com quem ficam a morar, mudança de escola se for o caso, como as visitas irão decorrer, entre outras, para a criança sentir alguma segurança na sua mudança de rotinas. Reforçando que as mesmas sejam mantidas sempre que possível. 

Comunicar aos filhos essa decisão, só quando existe certeza. Referir que a separação é definitiva e que os pais já não desejam viver juntos e, que eles não têm culpa nenhuma do seu divórcio. 

Reforçar que os pais continuam a amá-los muito deles e que estarão sempre ao seu lado para os ajudar, mesmo vivendo em casas diferentes. 

Conversarem em família para explicar todas as dúvidas sobre as mudanças que irão acontecer, abordando todas as questões de modo sincero e verdadeiro. 

Ter em conta que a compreensão do que é referido depende da idade da criança.

Comunicarem sem acusações e sem atitudes agressivas na frente das crianças. Nunca utilizarem os filhos como forma de atingir o outro progenitor, assim como em nenhum momento devem denegrindo imagem da mãe ou pai. E, não privar as crianças do contacto com qualquer um dos progenitores, porque com isso só prejudicam o seu bom desenvolvimento da criança. 

Oferecer espaço às crianças para expressarem os seus sentimentos e opiniões. Estarem atentos para perceber o sentir e reagir das crianças em todo o processo de divórcio, através da sua comunicação verbal e não-verbal, tais como, sinais de tristeza, alterações de comportamento, birras mais frequentes, queixas de índole física, desinteresse escolar, etc.

O divórcio é entre os progenitores, não entre pais e filhos, como tal a atribuição de culpas e a resolução dos conflitos, devem ser resolvidos enquanto casal e nunca, mas nunca mesmo, as crianças devem ser envolvidas nesta luta, nem privados do contacto com o progenitor que não ficou a custódia, porque isso só compromete o bom desenvolvimento das crianças.

domingo, 23 de novembro de 2014

7 Formas para melhorar a qualidade dos relacionamentos


O que é preciso fazer para manter a qualidade no relacionamento?

Os relacionamentos não são fáceis. É necessário ir construindo e conservando a qualidade do relacionamento para que uma relação flua, sendo também preciso muita perseverança e várias cedências de ambas as partes. 

1- Manter interesses comuns – Após a fase da paixão, é frequente as pessoas sentirem que tem poucos interesses em comum. Contudo, é de extrema importância descobrirem algumas atividades que possam desenvolver juntos. Mantendo contudo, as atividades que cada um gosta de fazer individualmente.

2 .  Andar de mãos dadas ou abraçados ajuda a fortalecer os vínculos- Se estes comportamentos eram habituais na fase inicial do namoro, é fulcral, continuar a proceder da mesma maneira e a tocar afetos sempre que estão juntos.

3.Conversar abertamente sobre tudo, especialmente se existir alguma situação que não decorreu segundo as expectativas - Ajuda a evitar conflitos posteriores e, a aumentar a confiança.

4.Pedir desculpas e aceitar as falhas- apreciar as qualidades do seu par em detrimento das falhas. Realçar as qualidades ajuda a lidar melhor com as imperfeições do seu par.

5.Verbalizar palavras de afeto, dar abraços e beijos - o contacto proporcionado por um abraço, beijo ou palavras ativam na memória sensações prazerosas.

6.Perguntar como foi o dia e, conversar sobre os contratempos que surgiram é uma forma de partilha que ajuda não só a superar melhor as dificuldades, como a fortalecer os laços entre o casal.

7. Ir para a cama ao mesmo tempo e trocar carinhos - é uma maneira de aumentar a cumplicidade, com a partilha deste momento no final de cada dia.



"Alimentar o Amor"


Começar é fácil. Acabar é mais fácil ainda. Chega-se sempre à primeira frase, ao primeiro número da revista, ao primeiro mês de amor. Cada começo é uma mudança e o coração humano vicia-se em mudar. Vicia-se na novidade do arranque, do início, da inauguração, da primeira linha na página branca, da luz e do barulho das portas a abrir.Começar é fácil. Acabar é mais fácil ainda. Por isso respeito cada vez menos estas actividades.Aprendi que o mais natural é criar e o mais difícil de tudo é continuar. A actividade que eu mais amo e respeito é a actividade de manter.Em Portugal quase tudo se resume a começos e a encerramentos. Arranca-se com qualquer coisa, de qualquer maneira, com todo o aparato. À mínima comichão aparece uma «iniciativa», que depois não tem prosseguimento ou perseverança e cai no esquecimento. Nem damos pela morte.É por isso que eu hoje respeito mais os continuadores que os criadores. Criadores não nos faltam. Chefes não nos faltam. Faltam-nos continuadores. Faltam-nos tenentes. Heróis não nos faltam. Faltam-nos guardiões.É como no amor. A manutenção do amor exige um cuidado maior. Qualquer palerma se apaixona, mas é preciso paciência para fazer perdurar uma paixão. O esforço de fazer continuar no tempo coisas que se julgam boas — sejam amores ou tradições, monumentos ou amizades — é o que distingue os seres humanos. O nascimento e a morte não têm valor — são os fados da animalidade. Procriar é bestial. O que é lindo é educar.Estou um pouco farto de revolucionários. Sei do que falo porque eu próprio sou revolucionário. Como toda a gente. Mudo quando posso e, apesar dos meus princípios, não suporto a autoridade.É tão fácil ser rebelde. Pica tão bem ser irreverente. Criar é tão giro. As pessoas adoram um gozão, um malcriado, um aventureiro. É o que eu sou. Estas crónicas provam-no. Mas queria que mostrassem também que não é isso que eu prezo e que não é só isso que eu sou.Se eu fosse forte, seria um verdadeiro conservador. Mudar é um instinto animal. Conservar, porque vai contra a natureza, é que é humano. Gosto mais de quem desenterra do que de quem planta. Gosto mais do arqueólogo do que do arquitecto. Gosto de académicos, de coleccionadores, de bibliotecários, de antologistas, de jardineiros.Percebo hoje a razão por que Auden disse que qualquer casamento duradoiro é mais apaixonante do que a mais acesa das paixões. Guardar é um trabalho custoso. As coisas têm uma tendência horrível para morrer. Salvá-las desse destino é a coisa mais bonita que se pode fazer. Haverá verbo mais bonito do que «salvaguardar»? É fácil uma pessoa bater com a porta, zangar-se e ir embora. O que é difícil é ficar. Isto ensinou-me o amor da minha vida, rapariga de esquerda, a mim, rapaz conservador. É por esta e por outras que eu lhe dedico este livro, que escrevi à sombra dela.Preservar é defender a alma do ataque da matéria e da animalidade. Deixadas sozinhas, as coisas amarelecem, apodrecem e morrem. Não há nada mais fácil do que esquecer o que já não existe. Começar do zero, ao contrário do que sempre pretenderam todos os revolucionários do mundo, é gratuito. Faz com que não seja preciso estudar, aprender, respeitar, absorver, continuar. Criar é fácil. As obras de arte criam-se como as galinhas. O difícil é continuar.

Miguel Esteves Cardoso, in As Minhas Aventuras na República Portuguesa

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Saber Amar



Amar é arriscar. Tudo.

O amor é algo extraordinário e muito raro. Ao contrário do que se pensa não é universal, não está ao alcance de todos, muito poucos o mantêm aqui. Chama-se amor a muita coisa, desde todos os seus fingimentos até ao seu contrário: o egoísmo.

A banalidade do gosto de ti porque gostas de mim é uma aberração intelectual e um sentimento mesquinho. Negócio estranho de contabilidade organizada. Amar na verdade, amar, é algo que poucos aguentam, prefere-se mudar o conceito de amor a trocar as voltas à vida quando esta parece tão confortável. 

Amar é dar a vida a um outro. A sua. A única. Arriscar tudo. Tudo. A magnífica beleza do amor reside na total ausência de planos de contingência. Quando se ama, entrega-se a vida toda, ali, desprotegido, correndo o tremendo risco de ficar completamente só, assumindo-o com coragem e dando um passo adiante. Por isso a morte pode tão pouco diante do amor. Quase nada. 

Ama-se por cima da morte, porquanto o fim não é o momento em que as coisas se separam, mas o ponto em que acabam.

Não é por respirar que estamos vivos, mas é por não amar que estamos mortos.

De pouco vale viver uma vida inteira se não sentirmos que o mais valioso que temos, o que somos, não é para nós, serve precisamente para oferecermos. Sim, sem porquê nem para quê. Sim, de mãos abertas. Sim... porque, ainda além de tudo o que aqui existe, há um mundo onde vivem para sempre todos os que ousaram amar...

José Luís Nunes Martins, in Filosofias


O amor é de outro reino. (...) Da amizade, do amor, do encontro de duas pessoas que se sentem bem uma ao lado da outra, fazendo amor, falando de amor, trocando amor, conversando de amor, falando de nada, falando de pequenas histórias código de ministros com aventuras de aventuras sem ministros conversa alta e baixa de livros e de quadros de compras e de ninharias conversas trocadas em miúdos ouvindo música sem escutar música que ajuda o amor o amor precisa de ajudas de ir às cavalitas de andas de muita coisa simples amor é um segredo que deve ser alimentado nas horas vagas alimentado nas horas de trabalho nas horas mais isoladas amor é uma ocupação de vinte e quatro horas com dois turnos pela mesma pessoa com desconfianças e descobertas com cegueiras e lumineiras amor de tocar no mais íntimo na beleza de um encanto escondido recôndito que todos no mundo fizeram pais de padres mães de bispos avós de cardeais amor agarrado intrometido de falus com prazer de alegria amor que não se sabe o que vai dar que nunca se sabe o que vai dar amor tão amor. 

Ruben A. in 'Silêncio para 4 




O significado do amor é este: que pelo menos na presença de uma pessoa possamos mostrar-nos completamente a nu. Sabemos que ela ama, pelo que não interpretará mal. Sabemos que ela ama, portanto o medo desaparece. Pode revelar-se tudo. Podem abrir-se todas as portas, pode convidar-se essa pessoa a entrar. Pode começar-se a participar no ser do outro.

O amor é participação, por isso, pelo menos com os seres amados, não seja falso. Não estou a dizer para ser verdadeiro na praça pública, porque isso criaria problemas desnecessários neste preciso momento. Mas comece com o amante, depois com a família, depois com pessoas que estejam mais afastadas de si. A pouco e pouco, aprenderá que ser verdadeiro é tão belo que estará disposto a perder tudo por causa disso. Depois na praça pública - depois a verdade passa simplesmente a ser a sua maneira de viver. O alfabeto do amor, da verdade, deve ser aprendido com aqueles que nos são mais próximos porque esses compreenderão.

Osho, in Intimidade






Relações tipo acaba-começa-acaba




Este tipo de relacionamentos, desenvolvem-se, devido ao desejo que a pessoa sente de ser amada, assim como, da sua necessidade de ter atenção. Estas condições estão na base dessa atração. Procurando deste modo, satisfazer as necessidades Emocionas.

Se na infância os seus pais não foram afetuosos como desejou, vai ter tendência para procurar um parceiro emocionalmente indisponível, na esperança de encontrar afeto, carinho ou atenção, através dos relacionamentos amorosos que vai estabelecendo.



Como um dependente de drogas precisa de novas doses, a pessoa neste tipo de relação, também necessita de uma dose maior à medida que esta produz menos efeitos. Entregando-se à relação com mais vigor, na fase em que a mesma proporciona menos satisfação. 

O que se deve fazer para evitar entrar numa espiral dessas?

Tomar consciência que a relação que se mantém não oferece o desejado, sendo por isso, necessário terminar a relação e fazer-se o luto, não continuar a ter esperança de conseguir mudar o parceiro emocionalmente indisponível, para que a mesma te dê aquilo de que sentes falta.

O problema neste tipo de relacionamentos, não se coloca na relação establecida com as pessoas emocionalmente disponíveis, mas nas próprias pessoas dependentes que tendencialmente procuram parceiros emocionalmente indisponíveis.A dependência nunca é saudável, acontece que o dependente quer sempre mais e nunca se sente satisfeito e o ciclo continua...É importante percepcionar que é melhor terminar a relação do que continuar a ter mais do mesmo.

Porque a necessidade de preservar a relação?

Pela necessidade de obter mais intimidade, atenção e afecto. Consequentemente, quanto mais a pessoa sente que está a divergir do desejado, isto é, a receber menos da relação, mais provoca, aborrece ou irrita o parceiro para que o mesmo lhe dê o que precisa. Neste contexto, quanto mais a relação se complicar, mais difícil é o desligamento, devido à profundidade das necessidades emocionais, originando assim uma dependência relacional -relações tipo acaba-começa-começa-acaba.

Procura ajuda para colocar fim a este ciclo vicioso!


Diferença nos relacionamentos íntimos?

Amar a outra pessoa pelo que ela é, acontece quando existe admiração e respeito.

Quando ama para ser amada e depende do amor das outras pessoas para ser feliz, pode estar a transformar os seus relacionamentos numa dependência emocional.

Esta forma de se relacionar exige enorme esforço e muitas estratégias para conseguir ser amada, implicando imenso sofrimento e infelicidade. Continuar a amar assim, só desenvolve relacionamentos pouco saudáveis.

É frequente em relacionamentos dependentes, a pessoa anular-se e não ter objetivos de vida, amigos e muitas vezes, nem actividade laboral. Abdica de quase tudo só pela necessidade de ser amada, dedicando-se exclusivamente ao relacionamento. Mas, prescinde de encontrar a sua própria felicidade.

É possível deixar de ser dependente e encontrar uma forma de o superar. A transformação pessoal começa no momento em que a pessoa tem consciência, que a sua forma de sentir é independente do comportamento dos outros. Como refere Osho: “Se só é capaz de ser feliz quando está com alguém, aprendeu o segredo de ser feliz”.

É importante recorrer a ajuda especializada para conseguir melhorar a autoconfiança e aumentar a autoestima, por forma a exprimir-se melhor, identificar os seus desejos e necessidades e evitar que sofra de abusos psicológicos ou de violência.

A psicoterapia proporciona recursos para a pessoa aprender a lidar com as características inerentes da dependência emocional.

Desenvolver autoconhecimento, por forma a conseguir parar de atrair relacionamentos que não satisfazem e que só fazem sofrer. Lidar melhor com as emoções, evita relacionar-se e atrair pessoas conflituosas. No momento em que aprende a gerir as emoções, consegue encontrar e manter uma relação equilibrada. 

Cuide de si!


O Valor do Amor

Não podes possuir um ser humano. Não podes perder aquilo que não possuis. Supõe que eras o dono dele. Poderias realmente amar alguém que não é absolutamente nada sem ti? Queres realmente alguém assim? Alguém que cai por terra mal sais pela porta? Não queres, pois não? E ele também não. Estás a virar toda a tua vida para ele. Toda a tua vida, rapariga. E se isso significa tão pouco para ti que podes simplesmente jogá-la fora, entregar-lha, então porque é que isso significaria alguma coisa mais para ele? Ele não pode valorizar-te mais que o valor que te dás a ti própria. 

Toni Morrison, in 'Song of Solomon'





Nova Relação



Nenhum sonho custa tanto a abandonar como o sonho de ter uma alma gémea, nem que seja noutro canto do mundo, uma alma tão perto da nossa como a vida. O que é a alma? É o que resta depois de tudo o que fizemos e dissemos. Podemos traí-la e contrariá-la, mesmo sem saber, porque nunca podemos conhecê-la. Só através duma alma gémea. Fácil dizer. Agora como é que consigo falar? As almas gémeas quase nunca se encontram, mas, quando se encontram, abraçam-se. Naqueles momentos em que alguém diz uma coisa, que nunca ouvimos, mas que reconhecemos não sei de onde. E em que mergulhamos sem querer, como se estivéssemos a visitar uma verdade que desconfiávamos existir, de onde desconfiamos ter vindo, mas aonde nunca tínhamos conseguido voltar.

O coração sente-se. A alma pressente-se. O coração anda aos saltos dentro do peito, a soluçar como um doido, tão óbvio que chega a chatear. Mas a alma é uma rocha branca onde estão riscados os sinais indecifráveis da nossa existência. Não muda, não se mostra, não se dá a conhecer. O coração ama. Mas é na alma que o amor mora. Todos os amores. Toda a vida. A alma deixa o coração à solta, como tonto que ele é, e despreocupa-se e desprende-se do corpo, porque tem mais que fazer. E o que faz a alma? Mandar escondidamente na parte da nossa vida que não tem expressão material ou física. Está mal dito, mas está certo, porque estas coisas não se podem sequer dizer.

O quem e o quê não lhe interessam. A alma não deseja, não tem saudades, não sofre nem se ri; a alma decide o que o coração e a razão podem decidir. A alma não é uma essência ou um espírito; é a fonte, o repositório, a configuração interior. Expressões horríveis, onde as palavras escorregam para se encontrarem. Só resta repetir. A alma é de tal maneira que é aquilo, exactamente, de que não se pode falar. A não ser que se encontre uma alma gémea. Gémea não é igual. É parecida. Não é um espelho. É uma janela. Não é um reflexo. É uma refracção.

(...) O desejo de encontrar uma alma gémea não é o desejo de reafirmarmos a unicidade da nossa existência através de outro que é igual a nós. É precisamente o contrário. É poder descansar dessa demanda. No fundo, todos nós duvidamos que tenhamos uma alma. Senão não falávamos tanto dela. Os melhores ainda são aqueles que a deixam a Deus. Uma alma gémea é a prova que não estamos sozinhos. Ou seja: é a prova de que a alma existe.

Não faz nem diz o mesmo que fazemos e dizemos — mas tem uma forma de fazer e dizer tão parecida com a nossa, que deixa de interessar o que é dito e feito. Uma alma gémea faz curto-circuito com os fusíveis corpo/coração/razão. Não é o «quê» — é o «porquê». O estado normal de duas almas gémeas é o silêncio. Não é o «não ser preciso falar» - é outra forma de falar, que consiste numa alma descansar na outra. Não é a paz dos amantes nem a cumplicidade muda dos amigos. Não precisa de amor nem de amizade para se entender. As almas acharam-se. Não têm passado. Não se esforçaram. Estão. É essa a maior paz do mundo. Como é que um ninho pode ser ninho doutro ninho? Duas almas gémeas podem ser.
Como é que se reconhece a alma gémea? No abraço. O coração pára de bater. A existência é interrompida.

No abraço do irmão, do amigo, da amante, há sensação, do corpo, do tempo, do coração. Há sempre a noção dum gesto posterior. No abraço de duas almas gémeas, mesmo quando se amam, o abraço parece o fim. Uma pessoa sente-se, ao mesmo tempo, protegida e protectora. E a paz é inteira - nenhum outro gesto, nenhuma outra palavra, é precisa para a completar. Pode passar a vida toda. Não importa.

Quando duas almas gémeas se abraçam, sente-se o alívio imenso de não ter de viver. Não há necessidade, nem desejo, nem pensamento. A sensação é de sermos uma alma no ar que reencontrou a sua casa, que voltou finalmente ao seu lugar, como se o outro corpo fosse o nosso que perdêramos desde a nascença.

Miguel Esteves Cardoso, in Explicações de Poruguês. 


Traição - Porque dói tanto?





Porque dói tanto?


A dor de ser traído, ocorre porque nunca imaginamos que seremos traídos pela pessoa que amamos, advém o desencanto, sentimos que afinal não conhecíamos a pessoa que estava ao nosso lado tão bem como pensávamos. 

Sentimos muitas vezes culpabilização e raiva de nós mesmos pelo que aconteceu, pensando erradamente que de algum modo fomos responsáveis.


A autoimagem e autoestima são arruinadas e a pessoa traída sente-se a pior pessoa do mundo. 

Ter dificuldade em acreditar noutra pessoa ou em novos relacionamentos e ter sentimentos de desesperança generalizados, pode conduzir a uma depressão.



Como lidar com a traição:


A melhor forma de superar uma traição é ter consciência de quem somos, quais as nossas qualidades e quais os valores que consideramos inultrapassáveis, devemos para tal fazer uma autoanálise ou procurar um psicólogo, para reestabelecer o equilíbrio interior e voltar a acreditar que se pode voltar a ser feliz!



Como a psicoterapia pode ajudar:


Na tomada de decisão, continuar ou não o relacionamento

Na consolidação de sua identidade, 

Apazigua os sentimentos de culpabilização,

Reestabelece a autoimagem e autoestima,

Ajuda na reconstrução de novos objetivos.

A importância de uma autoestima positiva



Qual a necessidade pela qual é importante desenvolver uma autoestima positiva?

A razão pela qual devemos desenvolvê-la é porque essa é a base mais importante da nossa personalidade, é a característica que mais influencia a forma de cada um se relacionar, seja a nível pessoal ou profissional. O
 comportamento de cada pessoa é determinado, em função da imagem e do valor que cada pessoa atribui a si própria.   

A autoestima é caracterizada pela avaliação subjetiva que cada pessoa efetua de si própria. Esta avaliação interna pode ser positiva ou negativa, sendo estruturada consoante a as experiências de vida de cada um.  Podemos com tudo isto afirmar que a autoestima é o reflexo da satisfação individual.

Como e quando se desenvolve?

A sua construção é iniciada na infância, mas ao longo do crescimento é que se vai consolidando,  dependendo das vivências e das pessoas com quem nos relacionamos. O desenvolvimento de uma baixa ou alta autoestima, irá depender das interações que cada um vai experienciando. O valor que cada um atribui a si próprio, não é determinado só por circunstâncias exteriores, advém da forma como cada um se estrutura interiormente. Esta 
imagem que elabora de si mesmo, tem origem na sua autoimagem. 

A autoestima varia em função de três componentes.

A componente afetiva que está relacionada com o valor que temos de nós próprios, podendo ser classificada de positiva ou negativa. A componente comportamental, que se prende com a intenção e a tomada de decisão para agir e, a componente cognitiva que está relacionada com o valor que temos da nossa personalidade e do nosso comportamento.

É necessário reavaliar os nossos pensamentos porque permanentemente, o nosso pensamento, que é especialista em investigar todas as situações em que agimos inadequadamente, irá avaliar se temos essa consciência. Este processo, leva-nos a perceber a tendência inerente e prejudicial do nosso pensamento...sendo por esse motivo, importante e benéfico, desenvolver uma autoimagem positiva ou ficamos prisioneiros dos registos negativos do pensamento.

Quando não se faz uma reavaliação correta ao nível da consciência, o que muitas vezes é difícil de conseguir individualmente, porque a tendência  da pessoa é focar-se mais nos aspetos negativos, a sua autoimagem vai enfraquecendo. Contudo, com ajuda psicoterapêutica, essa tomada de consciência é ajustada, sendo possível ficar-se com uma visão mais clara do que ocorre com as nossas atitudes ou desejos. 

Quando se pode avaliar a autoestima?

Nos momentos de fragilidade emocional é quando podemos avaliar realmente a nossa autoestima. Quando estamos em sofrimento, se a nossa autoestima for negativa...ficamos com a sensação de que a mesma, parece ter evaporado e que já nem sabemos qual a nossa importância, quando isto acontece é porque não era muito consistente. A falta de autoestima gera consequentemente nestas fases, diminuição de autoconfiança e inúmeras dúvidas quanto às próprias competências.

Sempre que não existe um equilíbrio entre as expectativas pessoais e a realização das mesmas, tendencialmente a pessoa vai diminuindo a sua autoestima e também a sua autoconfiança.

As pessoas só acreditam no seu próprio valor e conseguem sentir autoconfiança, quando anteriormente, alguém já lhe deu valor ou confiou nela. Da mesma forma que uma pessoa só consegue entender que possui características positivas, a partir do momento em que alguém as verbalizou. Só após estas circunstâncias, é que é possível a pessoa ter consciência das mesmas.

A auto-aprovação e o nosso funcionamento, reflete-se em todos os pensamentos e na forma de cada um se ver. Assim, não será difícil perceber, que além de afetar a relação com os outros, também influencia todas as coisas que fazemos.

Quais os benefícios para desenvolver uma autoestima positiva?

Desenvolver uma boa autoestima, permite-nos pensar, sentir e agir de modo mais autoconfiante e desfrutar de maior bem-estar, porque passamos a acreditar mais nas capacidades que temos, tornando-se mais fácil, sermos felizes e atingirmos os objetivos desejados.
Tenha em conta que alguns problemas psicológicos, como a tristeza, distúrbios alimentares, receios, medos, inibições, ansiedade ou fobia social, entre outros, podem afetar e muito o seu dia-a-dia, em consequência de uma baixa autoestima.

É importante recorrer a ajuda especializada, se sente que tem baixa autoestima. Este acompanhamento permite-lhe conseguir ter melhor autoconfiança e ajudá-la a aumentar a sua autoestima, para que seja capaz de se exprimir melhor, de identificar o que deseja ou para perceber as suas reais necessidades, evitando com isso que sofra sem necessidade, só porque não procura ou resiste em pedir ajuda.

A psicoterapia promove os recursos mais eficazes para a pessoa aprender a lidar com as características inerentes da sua personalidade, a lidar e a gerir melhor as emoções, quando desenvolve autoconhecimento. 





O orgulho é a consciência (certa ou errada) do nosso próprio mérito, a vaidade, a consciência (certa ou errada) da evidência do nosso próprio mérito para os outros. Um homem pode ser orgulhoso sem ser vaidoso, pode ser ambas as coisas, vaidoso e orgulhoso, pode ser — pois tal é a natureza humana — vaidoso sem ser orgulhoso. É difícil à primeira vista compreender como podemos ter consciência da evidência do nosso mérito para os outros, sem a consciência do nosso próprio mérito. Se a natureza humana fosse racional, não haveria explicação alguma. Contudo, o homem vive a princípio uma vida exterior, e mais tarde uma interior; a noção de efeito precede, na evolução da mente, a noção de causa interior desse mesmo efeito. O homem prefere ser exaltado por aquilo que não é, a ser tido em menor conta por aquilo que é. É a vaidade em acção.

Fernando Pessoa



Hoje Tomei a Decisão de Ser Eu


Hoje, ao tomar de vez a decisão de ser Eu, de viver à altura do meu mister, e, por isso, de desprezar a ideia do reclame, e plebeia sociabilizacão de mim, do Interseccionismo, reentrei de vez, de volta da minha viagem de impressões pelos outros, na posse plena do meu Génio e na divina consciência da minha Missão. Hoje só me quero tal qual meu carácter nato quer que eu seja; e meu Génio, com ele nascido, me impõe que eu não deixe de ser. 

Atitude por atitude, melhor a mais nobre, a mais alta e a mais calma. Pose por pose, a pose de ser o que sou. 

Um raio hoje deslumbrou-me de lucidez. Nasci. 

Nada de desafios à plebe, nada de girândolas para o riso ou a raiva dos inferiores. A superioridade não se mascara de palhaço; é de renúncia e de silêncio que se veste. 

O último rasto de influência dos outros no meu carácter cessou com isto. Reconheci — ao sentir que podia e ia dominar o desejo intenso e infantil de « lançar o Interseccionismo» — a tranquila posse de mim. 

Fernando Pessoa, in Páginas Íntimas e de Auto-Interpretação