terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Como acordar com mais energia em 8 passos



Se é dos que quando o despertador toca só lhe apetece ignorá-lo (ou mesmo parti-lo...) e ficar debaixo dos cobertores, vale a pena conferir estas oito dicas.

1- DURMA

Parece senso comum, mas a verdade é que não há melhor truque para acordar "fresco" do que uma boa noite de sono. E para isso, há alguns cuidados a ter em conta:
- Nada de cafeína durante a tarde
- Ao jantar, não beba mais do que um copo de vinho, uma vez que, em grandes quantidades, pode facilitar o adormecer mas depois vai levá-lo a acordar várias vezes durante a noite
- Atenção à temperatura do quarto: uma queda na temperatura é uma "pista" natural que faz o corpo adormecer
- Não fazer exercício perto da hora de dormir
- Afaste-se de todos os ecrãs - sim, smartphone incluído - uma hora antes de dormir, uma vez que a luz leva o cérebro a pensar que é de dia
2 - LEVANTE-SE SEMPRE À MESMA HORA, MESMO AOS FINS-DE-SEMANA

O nosso ritmo circadiano, o processo biológico que conduz o ciclo sono-vigília, precisa de consistência para funcionar corretamente.
Nem todos precisam oito horas de sono por noite. Mas se se levantar todos os dias à mesma hora, o seu próprio corpo vai começar a indicar-lhe a melhor hora para se deitar para conseguir esse número de horas ideal de descanso.
3- NÃO CARREGUE NO BOTÃO DOS "MAIS CINCO MINUTOS"

Por irresistível que possa parecer ficar "só mais um bocadinho", quando o despertador tocar, levante-se. Deixar o despertador ir tocando de x em x minutos só leva a um sono fragmentado que vai fazê-lo acordar mais cansado. Se não confia em si próprio... aceite o velho truque de colocar o despertador num sítio onde não lhe chegue sem se levantar.
4 - BEBA ÁGUA ASSIM QUE SE LEVANTAR

Ao contrário do que possa parecer, perdemos muitos líquidos enquanto dormimos. A desidratação pode causar uma sensação de lentidão e sonolência, pelo que beber água logo ao despertar pode ajudá-lo a sentir-se mais alerta.
5 - PROCURE LUZ

A luz é o principal elemento que influencia os ritmos circadianos, portanto há que levantar os estores ou afastar cortinados mal acorde. Se o quarto não tem luz natural, é de considerar a hipótese de uma luz programável que simule o amanhecer. Mais simples ainda: acenda a luz mal se levante.
6- RESPIRE

Um estudo da Universidade de Oxford descobriu que a respiração usada no Yoga têm um efeito revigorante física e mentalmente. Numa das suas formas simples pode ser feita deitado na cama: inspire profundamente pelo nariz, enchendo de ar primeiro a barriga, que deve expandir-se como um balão. Continue a inspirar, expandindo agora as costelas. Quando já não conseguir inspirar mais, expire lenta mas completamente através do nariz. Repita entre 6 a 10 vezes.
7 - FAÇA EXERCÍCIO TODAS AS MANHÃS

O exercício não precisa de ser vigoroso. Na verdade, exercícios suaves de Yoga ou Tai Chi mostraram-se eficazes na missão de começar o dia com mais energia (pode procurar vídeos no YouTube). O ideal seria praticar por 20 minutos, mas cinco de atividade mais intensa cumprem o objetivo.

8 - TOME UM PEQUENO-ALMOÇO RICO EM PROTEÍNAS
De manhã, a proteína converte-se em dopamina, que energiza o corpo. A carne é uma fonte óbvia, mas há vários alimentos ricos em proteínas: feijão, ervilhas, ovos, soja, avelãs e sementes. Hidratos de carbono (pão e cereais) devem ser consumidos com moderação, assim com alimentos processados com muito açúcar adicionado, que vão provocar uma sensação de moleza.
Artigo publicado in Visão

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Treino das emoções - Desenvolvimento Relacional


Costuma desenvolver relacionamentos amorosos complicados? Já pensou que a culpa pode ser sua?
Melhorar um relacionamento, implica necessariamente que ambos, tenham maturidade e consciência para reconhecerem as falhas  e, humildade para pedirem desculpa quando fazem algo de errado.

Acontece que muitas pessoas costumam culpar os outros pelas dificuldades que surgem na relação. Responsabilizam a pessoa que têm ao seu lado pelas falhas, mas quase nunca aceitam os seus próprios erros. Isso costuma acontecer com alguma frequência e está convencida de que o mau funcionamento ou o fracasso das relações é condicionado pela escolha das pessoas erradas? Este artigo pode ajudar a clarificar algumas situações. 
É importante analisar a razão pela qual isso acontece. Serão sempre as outras pessoas a falhar? Mas a única pessoa que permanece em todos os relacionamentos é você!
Uma relação é construída por duas pessoas com personalidades distintas. Poderá ser só uma das pessoas a falhar? Não é provável que isso aconteça. Existem maiores probabilidades de uma delas cometer erros mais vezes.
Podem existir várias situações prováveis, até pode acontecer que uma cometa mais erros e consequentemente que o outro parceiro esteja mais vezes certo. Poderá haver alturas em que estão os dois certos. Por último poderão ambos estar errados, mas nenhum deles quer ou consegue reconhecer ou admitir que falhou. Seguindo esta linha, isso implica que ambas erram e acertam em maior ou menor percentagem.
A melhoria da relação deve ser baseada na procura de um equilíbrio, envolvendo atenção permanente de ambos.
A responsabilidade do bom ou mau funcionamento da relação nunca será simplesmente só de um, se ambos a desejam e pretendem fortalecer a ligação. Mas, se não se esforçarem os dois, sendo só uma das partes a querer realmente construir uma relação sólida, o resultado mais provável é que a relação estagne, não consiga fluir… até ao momento em relação começa a morrer aos poucos.
Após essa fase, principalmente se não existir comunicação entre o casal, um começa a sentir-se insatisfeito e o outro acaba por reagir de igual modo.
Começa assim a fase dos problemas e dos conflitos permanentes. É o que ocorre quando os dois não estão em sintonia ou não se empenham com o mesmo vigor, na sua construção da relação. A casa desaba à mínima tempestade, porque não tem uma estrutura forte para continuar.
Começa a fase em que se culpabiliza o outro por tudo o que de mau acontece. Nenhum assume os seus erros pelo mau funcionamento da relação, como se apenas um deles fosse o responsável por tudo o que aconteceu até aí.
Qualquer relacionamento tem bons e maus momentos, altos e baixos, mas para se construir um bom relacionamento, tem de existir flexibilidade, tolerância, boa comunicação e a aceitação de que o outro não pode ser sempre perfeito. É importante evitar opiniões formatadas, juízos de valor, comparações com pessoas de vivências passadas e estereótipos. É fundamental existir vontade de reequilibrar a relação.
Resolva os problemas à medida que forem surgindo, não guarde as pedras no sapato ou vai ter dificuldade em caminhar. Esclareça todas as questões e fale do que sente. Isso é sempre importante! 
A comunicação e o diálogo construtivo é sempre o melhor caminho para a resolução de problemas. Evite acumular tudo o que incomoda. Se isto costuma acontecer, é fácil adivinhar o resultado! Um dia, alguém vai acabar por rebentar quando menos se espera, agravando, assim, os efeitos colaterais.
Procure não tentar adivinhar o que a outra pessoa deseja. Se tem dúvidas, pergunte! Deste modo, livra-se de inquietações. Não espere que passe ou arrisca-se a ver um grão de areia transformar-se numa rocha onde nada poderá existir - muito menos o amor.
Ter consciência das razões pelas quais os relacionamentos anteriores não funcionaram e analisar as suas falhas será certamente a melhor forma de, futuramente, conseguir ter a relação desejada!
Mas após tantos encontros e desencontros, chega uma altura da nossa vida em que é preciso analisar melhor as razões que contribuíram para o fracasso dos relacionamentos anteriores. Repensar sobre os motivos que originaram relações tão complicadas.
Quando esse trabalho não é realizado, contribuí em muitos casos só para aumentar defesas, receios e medos, consequência das marcas profundas das anteriores relações, condicionando a permeabilidade a novos relacionamentos.
E porque somos seres sociais, todos nós precisamos de ter alguém ao nosso lado para amar. Mas saber amar é uma arte que se aprende e desenvolve. Se tem essa perceção ou questões internas por resolver, acredite que, na maior parte das vezes, só com ajuda profissional poderá encontrar as respostas para esses desencontros. Adiar só agrava e aumenta o sofrimento.
Quanto mais eu me conheço, mais melhoro e, consequentemente, melhores relações atraio! Se isto faz sentido para si, SINTA primeiro, escute o seu coração, não se culpe pelos fracassos, este é o caminho a seguir – Basta querer!
Inscrições para grupos terapêuticos de Treino das emoções, com o objetivo de aprender a desenvolver uma estrutura emocional forte, por forma a criar relações mais saudáveis.
Será realizado em pequenos grupos, máximo de 6 pessoas.
Vantagens de ser em grupo:
-Preços mais acessíveis;
- Melhor eficiência na orientação para as dificuldades a ultrapassar;
-Troca de experiências emocionais, o que potencia mudanças mais rápidas.
Horários: Quinta-feira, Sexta às 18h:30m.
Duração: 1 vez por semana – 1h:30m.
Custo: 7,5€ por sessão (Inscrição mensal).
Local: Lisboa


quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Sofre de timidez ou de fobia social?


Costuma sentir elevada ansiedade, suores, falta de ar, aumento da frequência cardíaca  quando está na presença de outras pessoas?  Costuma corar, ficar com as mãos transpiradas, sentir a boca seca e dificuldade em falar? Procure perceber se é por ser uma pessoa mais reservada ou se sofre de fobia social.
 

A timidez é um estado natural que impede a normal evolução das relações sociais, algo essencial ao ser humano. Deriva da ansiedade, mais concretamente, do medo de estar exposto aos outros e comunicar com eles, principalmente em contextos pouco familiares ou em situações às quais não se está habituado, como acontece por exemplo numa entrevista de emprego.

Este medo pode ter intensidades diferentes, umas sentem maior desconforto e ansiedade do que outras no momento em se sentem expostos. Em função dessa ansiedade, podemos as distinguir, dois tipos de pessoas, as mais reservadas e as que sofrem de fobia social.

No caso da fobia social ou timidez social, os sintomas são muito mais limitantes por existir medo ou ansiedade intensa em vários contextos diários que conduzem, muitas vezes, a estados depressivo em que a pessoa modifica muitas das suas rotinas e se afasta de interações sociais, podendo chegar ao isolamento.

O motivo desse isolamento ou afastamento é a crença das pessoas em serem inferiores, sentindo assim um pavor de serem agredidas ou humilhadas no contacto com os outros, por exemplo, quando no passado sofreram situações traumáticas, no seu contacto social, actualmente podem sentir repulsa a estas (vítimas de bullying). Muitas vezes, estes receios desenvolvem-se sem a pessoa ter consciência do que está a acontecer e aumentam gradualmente, podendo causar enorme sofrimento e levar ao já referido isolamento. 

As pessoas que sofrem de fobia social apresentam características de submissão, são pouco comunicativos e assertivos, evitam a todo o custo falar sobre si, costumam ter fraco contacto visual e tom de voz. Socialmente é frequente recorrerem a bebidas alcoólicas ou a outro tipo de substâncias, por forma a diminuir a sua inibição. 

Estes tipo de sintomas influenciam e muito, muitas das actividades diárias. Muitas vezes condicionam a procura de emprego e o seu desempenho profissional ou escolar, veja-se o caso de querer evitar todos os locais de trabalho que impliquem contacto com outras pessoas! 

É importante fazer o diagnóstico e procurar ajuda quando a ansiedade e os receios interferem na rotina diária e afectam o relacionamento interpessoal. É necessário procurar ajuda para conseguir a libertação dos medos da exposição social, por forma a encontrar as causas inconscientes deste comportamento.

Os casos de Fobia Social podem originar estados depressivos muito limitadores, como Depressão profunda, impedindo a pessoa de estabelecer qualquer tipo de contacto social.

O tratamento desta perturbação é importante para que a pessoa consiga voltar a ter uma vida normal e, sinta novamente harmonia e tranquilidade no contacto com os outros. Desta forma, é aconselhável recorrer a um psicoterapeuta para efectuar o diagnóstico e iniciar o tratamento o mais cedo possível, ajudando a pessoa a libertar-se da sua timidez social.

Maria Pascoal     

terça-feira, 18 de agosto de 2015

Os homens têm medo da sexualidade das mulheres


Entrevista realizada a Nuno Monteiro Pereira, coordenador do estudo “Epidemiologia das Disfunções Sexuais em Portugal” realizado em 2011, onde discute a sexualidade feminina, as suas complexidades e evolução de como a sociedade olha para o sexo.


Acredita que o Flibanserin poderá representar uma revolução para as mulheres, como o Viagra foi para os homens?
Não. O Viagra foi lançado em 1998 e representou uma revolução farmacológica pela sua extraordinária eficácia e uma revolução cultural, porque a disfunção erétil deixou de ser um tabu total e passou a ser vista como uma doença relativamente à qual se pode pedir ajuda. Com o Flibanserin não vai acontecer isso. Acredito que possa ter alguma eficácia no sentido de aumentar o desejo, mas só no caso de uma percentagem relativamente pequena das mulheres. Aliás, os ensaios clínicos já sugerem isso. De qualquer forma vai ser importante porque até agora não havia praticamente nada para as mulheres, exceto testosterona. Mas a falta de desejo por baixa testosterona não atinge mais do que 10% ou 15% das mulheres.
Qual é a prevalência da falta de desejo sexual nas mulheres? 
De acordo com o estudo epidemiológico que coordenei sobre a disfunção sexual, o desejo hipoativo atinge cerca de 35% das mulheres portuguesas. É um número elevado, mas menor do que o apontado na maior parte das estatísticas internacionais. Ou seja, há menos disfunções do desejo na população feminina portuguesa do que na do norte da Europa ou na norte-americana, por exemplo, onde os estudos apontam para uma prevalência de cerca de 60%.
Porquê? 
Há vários fatores. Por um lado, há menos problemas hormonais no sul da Europa do que no norte da Europa ou nos Estados Unidos. A testosterona, que é a hormona que determina o desejo, tanto nos homens como nas mulheres, é em geral mais elevada nos países quentes. Mas claro que também há fatores socioculturais muito importantes. A ideia de que há maiores reservas em relação à sexualidade nos países latinos, por causa da influência da Igreja Católica, nunca foi provada. Pelo contrário. A sexualidade é mais saudável no sul da Europa do que no norte da Europa e nos Estados Unidos, onde os tabus são devastadores e há um puritanismo maior.
A que se deve a falta de desejo no caso das mulheres?
O desejo sexual feminino é extremamente complexo e dependente de vários fatores. Por um lado, a expressão da sexualidade feminina sempre foi muitíssimo mais reprimida. Uma mulher que exprimisse desejo era considerada leviana. Felizmente, isso está a mudar, mas esse ainda é um dos fatores inibitórios do desejo. Por outro lado, os mecanismos cerebrais do desejo sexual são muito mais difíceis de funcionar, e de perceber, na mulher do que no homem. Do ponto de vista puramente orgânico, o homem é muito mais básico. Ou melhor, menos complexo. O modelo de resposta sexual do homem é linear — desejo, excitação, orgasmo. Tem um princípio e um fim. No caso da mulher pode dizer-se que é circular, o que significa que não tem princípio nem fim. Muitas vezes a mulher não tem vontade de ter relações sexuais mas aceita tê-las e acaba por lubrificar, mesmo que lhe apeteça pouco. E por vezes o desejo acaba por aparecer a meio ou até já depois de o homem ejacular. Se quisermos ser objetivos, as coisas estão predeterminadas na espécie humana para que possa haver relações sexuais muitas vezes. Na maior parte dos animais isso não acontece. A cadela, por exemplo, só tem cio duas vezes por ano e não consente qualquer atividade sexual fora dessa altura. Mas a mulher pode ter uma relação sexual em qualquer altura, mesmo sem desejo.
O facto de o conseguir, ao contrário do homem, faz com que a ciência não tenha investido tanto na criação de fármacos para a mulher?
É uma das explicações. Mas a verdade é que, em relação à sexualidade feminina, ainda se conhece pouco. E especula-se muito. A resposta sexual do homem conhece-se bem e é muito clara. A da mulher deixa imensas dúvidas. Além de que é muito mais fácil estudar um órgão que está visível e que se observa o que acontece com ele do que os genitais femininos, que estão escondidos. Tudo é mais difícil. Por outro lado, a complexidade e a variabilidade de mulher para mulher é muito maior.

A frequência das relações sexuais pode fazer aumentar ou diminuir o desejo?

Em princípio não. As relações são em função do desejo e não vice-versa. O problema num casal é quando um tem muito mais desejo do que o outro. Normalmente o homem tem mais vontade e mais iniciativa. Mas muitas vezes é egoísta e não se esforça nada por criar ambiente nem investe nos preliminares. A maior parte dos homens não percebe nada de sexualidade porque ninguém os ensinou. Um dos dramas masculinos é que, de facto, os homens não percebem nada de mulheres. Com uma agravante. Além de não perceberem nada, agora estão assustados porque as coisas estão a mudar. Havia um grande domínio masculino nesta área. Os homens tomavam a iniciativa e elas aceitavam. Mas agora elas já reivindicam. E até já tomam a iniciativa. O padrão está muito confuso e os homens não estão preparados para isso. Têm medo da sexualidade delas.

Por Joana Pereira Bastos in Jornal Expresso.

sexta-feira, 10 de julho de 2015

Condenamos os outros com facilidade!!!


Todos Erramos

Apontamos quase sempre o dedo a quem erra... Condenamos os outros com enorme facilidade. Compreendemo-los pouco, perdoamo-los ainda menos. Mas, será que atirar pedras é o mais justo, eficaz e melhor?

Temos uma necessidade quase primária de julgar o comportamento alheio, de o analisar e avaliar ao mais ínfimo detalhe, sempre de um ponto de vista superior, como se o sentido da nossa existência, a nossa missão, passasse por sentenciar todos quantos cruzam a sua vida com a nossa... condenando-os... na firme convicção de que assim estamos a ajudar... a melhorar. 

Comete erro em cima de erro quem se dedica a julgar os erros dos outros... 

Julgamos de forma absoluta, na maior parte das vezes, generalizando um gesto ou dois, achando que cada pequena ação revela tudo quanto há a saber sobre determinada pessoa... mais, achamos que cada homem ou é bom ou é mau... como se não fossemos todos... de carne e osso... de luz e sombras.

Já a nós não nos julgamos nem nos deixamos julgar. Consideramos que, no caso específico da nossa vida, são tantos os factores que têm de se levar em conta (quase todos atenuantes) que se torna impossível qualquer tipo de veredicto... optando, assim, por uma espécie de arquivamento dos processos dada a complexidade das questões. Reconhecemo-nos incapazes de ponderar tudo... mas se em nós não conseguimos avaliar o erro, por que razão estamos tão à vontade quando se trata do dos outros?

É curioso, e uma prova da inteligência comum, que partindo da verdade universal de que todos erramos, nos sirva mais isso para nos desculparmos a nós mesmos do que aos outros... afinal, nós não somos superiores àqueles que passamos a vida a condenar. Por isso, devíamos ser capazes de os desculpar tanto quanto o fazemos a nós próprios. Mais, pode acontecer que alguém tropece, depois de nós, numa pedra que nós não atirámos para fora do caminho... 

Quem erra, faz-se vagabundo. Vai contra a sua vontade mais profunda, afasta-se da verdade. Erramos de cada vez que nos deixamos levar pela tentação das paixões momentâneas, pelos juízos precipitados e levianos... sempre que nos deixamos seduzir pelas falsas e brilhantes luzes das aparências... ao errar afastamo-nos de nós mesmos, perdemo-nos... em vazios.
 
Acreditamos que as nossas sentenças revelam, através do nosso sempre muito afiado sentido de justiça, a superioridade moral de uma vida acima do comum... quando afinal tal consideração apenas nos afasta, ainda mais, da verdade de nós mesmos. 

Numa vida acabada é sempre mais fácil dar sentido ao erro... Mas, no dia-a-dia desta nossa existência a fazer-se, quem comete o maior erro: o que não tenta para não errar ou o que erra tentando acertar? 
Precisaremos sempre de quem nos anima a corrigirmo-nos, não de quem nos reprova e só sabe magoar... 

Não somos seres perfeitos a quem o erro degrada, mas antes seres imperfeitos a quem o erro pode ensinar. 
Errando, posso ter noção do que sou, de onde estou e do caminho que devo fazer. 

Na desorientação geral do nosso tempo, há algo que se pode (e deve) fazer: ir ao encontro de quem falha e aceitá-lo como igual. Construindo um caminho conjunto, longe dos julgamentos... para mais perto da perfeição. 

O mais justo, eficaz e melhor será mesmo compreender e perdoar, pois quem erra, engana-se. A si mesmo. E isso, na maior parte dos casos, já é pena suficiente. 

Nunca faltará quem nos julgue... mas muito mais valioso será quem, com humildade, nos aceite... quem nos ame, apesar de tudo. 

José Luís Nunes Martins, in Amor, Silêncios e Tempestades 

quinta-feira, 2 de julho de 2015

A Disponibilidade é um grande presente



“O tempo se mede com batidas. Pode ser medido com as batidas de um relógio ou pode ser medido com as batidas do coração. Os gregos, mais sensíveis do que nós, tinham duas palavras diferentes para indicar esses dois tempos. Ao tempo que se mede com as batidas do relógio – embora eles não tivessem relógios como os nossos – eles davam o nome de chronos. O pêndulo do relógio oscila numa absoluta indiferença à vida. Com suas batidas vai dividindo o tempo em pedaços iguais: horas, minutos, segundos. A cada quarto de hora soa o mesmo carrilhão, indiferente à vida e à morte, ao riso e ao choro. Agora os cronômetros partem o tempo em fatias ainda menores, que o corpo é incapaz de perceber. Centésimos de segundo: que posso sentir num centésimo de segundo? O tempo do relógio é indiferente às tristezas e alegrias.
Há, entretanto, o tempo que se mede com as batidas do coração. Ao coração falta a precisão dos cronómetros. Suas batidas dançam ao ritmo da vida – e da morte. Por vezes tranquilo, de repente se agita, tocado pelo medo ou pelo amor. Dá saltos. Tropeça.Trina. Retoma à rotina. A esse tempo de vida os gregos davam o nome de kairós.
Chronos é um tempo sem surpresas: a próxima música do carrilhão do relógio de parede acontecerá no exato segundo previsto. Kairós, ao contrário, vive de surpresas. Nunca se sabe quando sua música vai soar.”
Rubem Alves em O AMOR QUE ACENDE A LUA – Um caso de amor com a vida.
Tenho um grupo de amigas muito queridas e de longa data, a vida nos colocou em caminhos diferentes, porém sempre que possível tentamos nos reunir para celebrar nossa amizade e colocar a conversa em dia. Nos últimos meses têm sido extremamente difícil de conseguir uma data em que todas possam participar. No começo do ano, fiz algum movimento no sentido de manter nossos encontros mais constantes e, ao ver que isso me estava exigindo esforço, resolvi não mais insistir.
Esses dias uma delas fez outra tentativa e logo começaram as falas de incompatibilidade de agendas e falta de tempo. Então disse que havia desistido de tentar, que nossa amizade não mudaria, mas não vejo sentido em desprender tanta energia e esforço para encontrar alguém, entendo que temos estilos e ritmos de vida totalmente diferentes, mas para mim, no fundo mesmo apenas falta vontade. Claro, minha sinceridade provocou certo desconforto entre todas, para elas eu estava sendo intolerante, mas eu fui apenas honesta.
Certamente o fato de ser tão difícil de nos encontrarmos não muda o que sinto por elas, mas eu quero mesmo é me cercar de pessoas disponíveis. Pessoas disponíveis são aquelas que respondem mensagens, que atendem ou retornam ligações, que ligam, que aceitam convites e fazem questão de ir, que convidam e fazem questão que eu vá, que perguntam e respondem, que se interessam, que compartilham experiências e sorrisos, que olham no olho, que sabem o valor de ter e ser uma boa companhia; são pessoas que estão disponíveis para celebrar a vida.
Estar disponível não é abrir mão de sua vida em prol do outro, não é ficar à mercê e esperando por ele, é apenas se abrir para viver aquele encontro que se apresenta de maneira leve e despretensiosa, por inteiro. Eu gosto do trabalho voluntário por causa disso, acho bem importante cultivar a prática de ações onde a moeda de troca seja a disponibilidade e não o dinheiro.
Estar disponível é estar presente e estar presente é de fato o maior presente que podemos dar e receber de alguém. Disponibilidade é desacelerar os ponteiros do relógio, é transformar Chronos emKairós, é imprimir pequenos fragmentos de tempo no coração e construir elos que nos fazer melhores para a vida e para o mundo.
Tatiana Nicz in CONTI outra

segunda-feira, 29 de junho de 2015

QUEM SOFRE POR AMOR?


Os dramas amorosos são sempre tão usados nas tramas de novelas, filmes e letras de músicas.

Mas será que o amor verdadeiro realmente nos faz sofrer? Ou será que não é mais fácil culpar o fim de uma relação fracassada ao invés de confrontar um outro sentimento não tão bonito assim? 
Olhar para o ego quando ele está ferido pode não ser uma tarefa fácil, mas extremamente necessária para uma nova visão sobre o amor, uma visão mais simples, leve e doce. E vamos deixar os dramas apenas na ficção!


Sobre aquele clichê: “Só aprendemos na dor, só crescemos no sofrimento.”. Será que não falta um ponto de interrogação nessa afirmação? Pois se nós não formos capazes de analisar mais friamente, os momentos que mais sofremos podem ser exatamente os que menos aprendemos.
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Nos relacionamentos amorosos, por exemplo, algumas vezes sofremos, nos martirizamos, temos a certeza que somos a maior vítima do mundo e que ninguém nunca poderá entender a nossa dor, a tal dor de amor. Mas vamos confessar que se fazer de vítima tem lá o seu glamour e o seu clima “rodriguiano” pode ser realmente tentador. Rímel borrado, cabelo bagunçado, cair lentamente Atrás da Porta enquanto escuta o clássico do Chico Buarque com o mesmo nome, reler as cartas de amor, ver as fotos e depois rasgá-las. Sem dúvida, todo esse drama mexicano é no mínimo instigante!
Mas muitas vezes estamos tão mergulhados no cenário dessa bela encenação que fica realmente difícil aprender ou refletir sobre alguma coisa além do próprio drama, muito pelo contrário, após tudo isso, normalmente voltamos a ter a mesma atitude infantil e procurar um culpado ou uma justificativa externa para tudo aquilo que sentimos ou ainda pior, voltamos a praticar os mesmos erros nas próximas relações. Meus caros, sinto informá-los, mas as respostas para esses conflitos estão em único lugar, com uma única pessoa e inseridas em um outro pensamento bastante clichê: Sim, dentro de cada um de nós.
Já parou para pensar porque às vezes sofremos tanto? Porque grande parte dos términos são sempre doloridos? Porque as relações não podem ser mais simples? Afinal, quem disse que amor rima com dor? E você já se perguntou quem sofreu por “amor”? Você ou o seu ego? Nosso ego pode ser tão mal trabalhado quanto nosso conceito de amor.
Quando tomamos um pé na bunda, por exemplo, muitas vezes já sabíamos que a relação estava acabada, que o sentimento havia mudado e que o que nos prendia àquela pessoa era simplesmente o medo de ficarmos sós ou de recomeçar. Mas nos paralisamos pelo medo e continuamos a empurrar vergonhosamente a relação com a barriga, com o pé e com o corpo inteiro. Até que chega o momento em que o corajoso, do outro lado, resolve por um fim naquilo que já estava fadado ao fracasso! E então, o que fazemos após o término? Choramos, nos descabelamos, quando o mais sensato seria ficar aliviado, feliz e desejar o bem daquele que teve um ato de coragem pensando na felicidade de ambos! Não vou ser hipócrita e afirmar que não sentimos saudade e falta do convívio; mas o drama é completamente desnecessário! É simplesmente o nosso ego falando mais alto e implorando por atenção.
E o papel dos nossos parceiros nessa história toda? Afinal é assim que eles deveriam ser vistos, como parceiros, pessoas com vontades e vidas próprias, que tem o direito de ir e vir, de chegar e dizer adeus. Mas algumas vezes nós somos capazes de transformá-los em nossos “salvadores” ou até mesmo nas próximas vitimas dentro do nosso mundo encantando de Alice no qual tendemos a ser muito mais a Rainha de Copas atrás do príncipe encantado do que a própria Bela Adormecida. Pois é, contos trocados, carências saciadas, mas nenhum sentimento verdadeiro mencionado.
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Somente quando sentirmos a dor e pararmos para analisar mais calmamente é que talvez possamos entender que tudo isso está muito distante do real significado da palavra amor, inclusive o amor próprio, que já deve ter se perdido no meio de tanto drama. E compreender que o verdadeiro amor é doce, é leve e sabe valorizar quando o outro está e compreender quando o outro precisa ir. O amor então poderá se sobrepor ao egocentrismo. O drama e a encenação não serão mais necessários. E a descoberta do amor próprio poderá levar a sensações muito mais verdadeiras do que qualquer drama mexicano!

PUBLICADO EM RECORTES POR 

quarta-feira, 3 de junho de 2015

5 Comportamentos que ajudam na hora de conquistar alguém

Regra básica: flores

Nem sempre é fácil chegarmos até quem nos chama mais a atenção mas há comportamentos que ajudam.
E também não é fácil conseguirmos fazer com que seja garantido que conseguimos conquistar determinada pessoa. No entanto, a revista “Super Interessante” decidiu fazer uma lista com várias dicas que podem ajudar e que são baseadas em conclusões de investigações que foram feitas.
Se está a passar por um momento em que precisa, anote:
1 – Se quer conquistar uma mulher, tenha flores por perto. Isto porque um estudo de uma universidade francesa provou que podem ter muita influência no sexo feminino. Foram avaliadas várias mulheres que acharam os homens (que não conheciam) mais bonitos ou interessantes depois de verem imagens de flores.
2 – Se o seu objectivo é conquistar um homem tenha em atenção que um dos truques principais é a aposta no carinho. De acordo com um estudo da Universidade de Indiana, os homens valorizam muito as demonstrações de afecto.
3 – Tenha em atenção que os homens preferem perceber logo que há algum tipo de interesse. Faça algum charme mas não exagere. Veja este estudo da Universidade de Bucknell, EUA.
4 – Mantenha o contacto visual. Dois estudos realizados em Massachusetts, EUA, provaram que o facto de olhar nos olhos da pessoa desenvolve uma ligação maior.
5 – Não se esqueça de sorrir. Uma pesquisa das universidades de Aberdeen, St. Andrews e Harvard provam que as pessoas acham que quem sorri é mais atraente.
Artigo publicado no Jornal i dia 2/06/2015 

quarta-feira, 20 de maio de 2015

Elogio ao Amor!



Quero fazer o elogio do amor puro. Parece-me que já ninguém se apaixona de verdade. Já ninguém quer viver um amor impossível. Já ninguém aceita amar sem uma razão.

Hoje as pessoas apaixonam-se por uma questão de prática. Porque dá jeito. Porque são colegas e estão ali mesmo ao lado.
Porque se dão bem e não se chateiam muito. Porque faz sentido....Porque é mais barato, por causa da casa. Por causa da cama. Por causa das cuecas e das calças e das contas da lavandaria.

Hoje em dia as pessoas fazem contratos pré-nupciais, discutem tudo de antemão, fazem planos e à mínima merdinha entram logo em "diálogo". O amor passou a ser passível de ser combinado. Os amantes tornaram-se sócios. Reúnem-se, discutem problemas, tomam decisões. O amor transformou-se numa variante psico-sócio-bio-ecológica de camaradagem.

A paixão, que devia ser desmedida, é na medida do possível. O amor tornou-se uma questão prática. O resultado é que as pessoas, em vez de se apaixonarem de verdade, ficam "praticamente" apaixonadas.

Eu quero fazer o elogio do amor puro, do amor cego, do amor estúpido, do amor doente, do único amor verdadeiro que há, estou farto de conversas, farto de compreensões, farto de conveniências de serviço. Nunca vi namorados tão embrutecidos, tão cobardes e tão comodistas como os de hoje.

Incapazes de um gesto largo, de correr um risco, de um rasgo de ousadia, são uma raça de telefoneiros e capangas de cantina, malta do "tá tudo bem, tudo bem", tomadores de bicas, alcançadores de compromissos, bananóides, borra-botas, matadores do romance, romanticidas. Já ninguém se apaixona? Já ninguém aceita a paixão pura, a saudade sem fim, a tristeza, o desequilíbrio, o medo, o custo, o amor, a doença que é como um cancro a comer-nos o coração e que nos canta no peito ao mesmo tempo?

O amor é uma coisa, a vida é outra. O amor não é para ser uma ajudinha. Não é para ser o alívio, o repouso, o intervalo, a pancadinha nas costas, a pausa que refresca, o pronto-socorro da tortuosa estrada da vida, o nosso "dá lá um jeitinho sentimental". Odeio esta mania contemporânea por sopas e descanso. Odeio os novos casalinhos. Para onde quer que se olhe, já não se vê romance, gritaria, maluquice, facada, abraços, flores. O amor fechou a loja. Foi trespassada ao pessoal da pantufa e da serenidade. Amor é amor. É essa beleza. É esse perigo. O nosso amor não é para nos compreender, não é para nos ajudar, não é para nos fazer felizes. Tanto pode como não pode. Tanto faz. É uma questão de azar. O nosso amor não é para nos amar, para nos levar de repente ao céu, a tempo ainda de apanhar um bocadinho de inferno aberto.

O amor é uma coisa, a vida é outra. A vida às vezes mata o amor. A "vidinha" é uma convivência assassina. O amor puro não é um meio, não é um fim, não é um princípio, não é um destino. O amor puro é uma condição. Tem tanto a ver com a vida de cada um como o clima. O amor não se percebe. Não dá para perceber. O amor é um estado de quem se sente. O amor é a nossa alma. É a nossa alma a desatar. A desatar a correr atrás do que não sabe, não apanha, não larga, não compreende. O amor é uma verdade. É por isso que a ilusão é necessária. A ilusão é bonita, não faz mal. Que se invente e minta e sonhe o que quiser. O amor é uma coisa, a vida é outra. A realidade pode matar, o amor é mais bonito que a vida. A vida que se lixe. Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não esta lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem.

Não é para perceber. É sinal de amor puro não se perceber, amar e não se ter, querer e não guardar a esperança, doer sem ficar magoado, viver sozinho, triste, mas mais acompanhado de quem vive feliz. Não se pode ceder. Não se pode resistir.

A vida é uma coisa, o amor é outra. A vida dura a vida inteira, o amor não. Só um mundo de amor pode durar a vida inteira.

E valê-la também.

Miguel Esteves Cardoso

terça-feira, 19 de maio de 2015

Alimentar o ego



Para quem faz do sonho a vida, e da cultura em estufa das suas sensações uma religião e uma política, para esse primeiro passo, o que acusa na alma que ele deu o primeiro passo, é o sentir as coisas mínimas extraordinária — e desmedidamente. Este é o primeiro passo, e o passo simplesmente primeiro não é mais do que isto. Saber pôr no saborear duma chávena de chá a volúpia extrema que o homem normal só pode encontrar nas grandes alegrias que vêm da ambição subitamente satisfeita toda ou das saudades de repente desaparecidas, ou então nos actos finais e carnais do amor; poder encontrar na visão dum poente ou na contemplação dum detalhe decorativo aquela exasperação de senti-los que geralmente só pode dar, não o que se vê ou o que se ouve, mas o que se cheira ou se gosta — essa proximidade do objecto da sensação que só as sensações carnais — o tacto, o gosto, o olfacto - esculpem de encontro à consciência; poder tornar a visão interior, o ouvido do sonho — todos os sentidos supostos e do suposto — recebedores e tangíveis como sentidos virados para o externo: escolho estas, e as análogas suponham-se, dentre as sensações que o cultor de sentir-se logra, educado já, espasmar, para que dêem uma noção concreta e próxima do que busco dizer. 

O chegar, porém, a este grau de sensação, acarreta ao amador de sensações o correspondente peso ou gravame, físico de que correspondentemente sente, com idêntico exaspero consciente, o que de doloroso impinge do exterior, e por vezes do interior também, sobre o seu momento de atenção. E quando assim constata que sentir excessivamente, se por vezes é gozar em excesso, é outras sofrer com prolixidade, e porque o constata, é que o sonhador é levado a dar o segundo passo na sua ascensão para si próprio. Ponho de parte o passo que ele poderá ou não dar, e que, consoante ele o possa ou não dar, determinará tal ou tal outra atitude, jeito de marcha, nos passos que vai dando, segundo possa ou não isolar-se por completo da vida real (se é rico ou não, — redunda nisso). Porque suponho compreendido nas entrelinhas do que narro, que, consoante é ou não possível ao sonhador isolar-se e dar-se a si, ou não é, com menor, ou maior, intensidade ele deve concentrar-se sobre a sua obra de despertar doentiamente o funcionamento das suas sensações das coisas e dos sonhos. Quem tem de viver entre os homens, activamente e encontrando-os, — e é realmente possível reduzir ao mínimo a intimidade que se tem de ter com eles (a intimidade, e não o mero contacto, com gente, é que é o prejudicador) — terá de fazer gelar toda a sua superfície de convivência para que todo o gesto fraternal e social feito a ele escorregue e não entre ou não se imprima. Parece muito isto, mas é pouco. Os homens são fáceis de afastar: basta não nos aproximarmos. Enfim, passo sobre este ponto e reintegro-me no que explicava. 

O criar uma agudeza e uma complexidade imediata às sensações as mais simples e fatais, conduz, eu disse, se a aumentar imoderadamente o gozo que sentir dá, também a elevar com despropósito o sofrimento que vem de sentir. Por isso o segundo passo do sonhador deverá ser o evitar o sofrimento. Não deverá evitá-lo como um estóico ou um epicurista da primeira maneira — desnificando-se porque assim endurecerá para o prazer, como para a dor. Deverá ao contrário ir buscar à dor o prazer, e passar em seguida a educar-se a sentir a dor falsamente, isto é, a ter ao sentir a dor, um prazer qualquer. Há vários caminhos para esta atitude. Um é aplicar-se exageradamente a analisar a dor, tendo preliminarmente disposto o espírito e perante o prazer não analisar mas sentir apenas; é uma atitude mais fácil, aos superiores é claro, do que dita parece. Analisar a dor e habituar-se a entregar a dor sempre que aparece, e até que isso aconteça por instinto e sem pensar nisso, à análise, acrescenta a toda a dor o prazer de analisar. Exagerado o poder e o instinto de analisar, breve o seu exercício absorve tudo e da dor fica apenas uma matéria indefinida para a análise.

Outro método, mais subtil esse e mais difícil, é habituar-se a encarnar a dor numa determinada figura ideal. Criar um outro Eu que seja o encarregado de sofrer em nós, de sofrer o que sofremos. Criar depois um sadismo interior, masoquista todo, que goze o seu sofrimento como se fosse de outrem. Este método — cujo aspecto primeiro, lido, é de impossível — não é fácil, mas está longe de conter dificuldades para os industriados na mentira interior. Mas é eminentemente realizável. E então, conseguido isso, que sabor a sangue e a doença, que estranho travo de gozo longínquo e decadente, que a dor e o sofrimento vestem! Doer aparenta-se com o inquieto e magoante auge dos espasmos. Sofrer, o sofrer longo e lento, tem o amarelo íntimo da vaga felicidade das convalescenças profundamente sentidas. E um requinte gasto a desassossego e a dolência, aproxima essa sensação complexa da inquietação que os prazeres causam na ideia de que fugirão, e a dolência que os gozos tiram do antecansaço que nasce de se pensar no cansaço que trarão.

Há um terceiro método para subtilizar em prazeres as dores e fazer das dúvidas e das inquietações um mole leito. É o dar às angústias e aos sofrimentos, por uma aplicação irritada da atenção, uma intensidade tão grande que pelo próprio excesso tragam o prazer do excesso, assim como pela violência sugiram a quem de hábito e educação de alma ao prazer se vota e dedica, o prazer que dói porque é muito prazer, o gozo que sabe a sangue porque feriu. E quando, como em mim — requintador que sou de requintes falsos, arquitecto que me construo de sensações subtilizadas através da inteligência, da abdicação da vida, da análise e da própria dor — todos os três métodos são empregados conjuntamente, quando uma dor, sentida imediatamente, e sem demoras para estratégia íntima, é analisada até à secura, colocada num Eu exterior até à tirania, e enterrada em mim até ao auge de ser dor, então verdadeiramente eu me sinto o triunfador e o herói. Então me pára a vida, e a arte se me roja aos pés. 

Tudo isto constitui apenas o segundo passo que o sonhador deve dar para o seu sonho.
O terceiro passo, o que conduz ao limiar rico do Templo — esse quem que não só eu o soube dar? Esse é o que custa porque exige aquele esforço interior que é imensamente mais difícil que o esforço na vida, mas que traz compensações pela alma fora que a vida nunca poderá dar. Esse passo é, tudo isso sucedido, tudo isso totalmente e conjuntamente feito — sim, empregados os três métodos subtis e empregados até gastos, passar a sensação imediatamente através da inteligência pura, coá-la pela análise superior, para que ela se esculpa em forma literária e tome vulto e relevo próprio. Então eu fixei-a de todo. Então eu tornei o irreal real e dei ao inatingível um pedestal eterno. Então fui eu, dentro de mim, coroado o Imperador.

Porque não acrediteis que eu escrevo para publicar, nem para escrever nem para fazer arte, mesmo. Escrevo, porque esse é o fim, o requinte supremo, o requinte temperamentalmente ilógico (...), da minha cultura de estados de alma. Se pego numa sensação minha e a desfio até poder com ela tecer-lhe a realidade interior a que eu chamo ou a A Floresta do Alheamento, ou a Viagem Nunca Feita, acreditai que o faço não para que a prosa soe lúcida e trémula, ou mesmo para que eu goze com a prosa — ainda que mais isso quero, mais esse requinte final ajunto, como um cair belo de pano sobre os meus cenários sonhados — mas para que dê completa exterioridade ao que é interior, para que assim realize o irrealizável, conjugue e contraditório e, tornando o sonho exterior, lhe dê o seu máximo poder de puro sonho, estagnador de vida que sou, burilador de inexactidões, pajem doente da minha alma Rainha, lendo-lhe ao crepúsculo não os poemas que estão no livro, aberto sobre os meus joelhos, da minha Vida, mas os poemas que vou construindo e fingindo que leio, e ele fingindo que ouve, enquanto a Tarde, lá fora não sei como ou onde, dulcifica sobre esta metáfora erguida dentro de mim em Realidade Absoluta a luz ténue e última dum misterioso dia espiritual.

Fernando Pessoa, in Livro do Desassossego